Parceria entre Brasil e Reino Unido acelera integração do setor naval à transição energética, com foco em inovação, capacitação técnica e desenvolvimento sustentável de portos e estaleiros
Desde 2022, o Brasil vem ampliando sua cooperação com o Reino Unido para desenvolver projetos de energia eólica offshore e integrar o setor naval.
A parceria internacional visa compartilhar tecnologias, modelos regulatórios e experiências para fortalecer a capacitação técnica e a infraestrutura portuária especializada.
Além disso, busca impulsionar a reindustrialização do setor naval brasileiro, promovendo crescimento sustentável e inovação no mercado de energia limpa.
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Energia eólica offshore: uma nova demanda para a indústria naval brasileira
O crescimento global da energia eólica offshore tem gerado oportunidades importantes para os setores de construção naval, manutenção e logística portuária.
De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), a capacidade instalada global da tecnologia ultrapassou 64 GW em 2023.
Os principais destaques foram Reino Unido, Dinamarca, China e Alemanha.
No Reino Unido, o setor naval foi decisivo para viabilizar a construção de 44 parques eólicos offshore, que juntos somam 15 GW de capacidade. O plano energético britânico, lançado em abril de 2022, prevê alcançar 47 GW até 2030.
Para isso, haverá investimentos em estaleiros, embarcações especializadas e serviços de apoio marítimo, segundo o Department for Energy Security and Net Zero.
No Brasil, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) registrou, até dezembro de 2023, 183 GW em projetos eólicos offshore protocolados. Essas iniciativas indicam um potencial de geração que pode exigir a construção e operação de centenas de fundações, torres, cabos eólicas, embarcações de apoio e serviços portuários especializados.
Por isso, o desenvolvimento dessa cadeia representa uma oportunidade concreta para reativar estaleiros, modernizar portos e gerar empregos qualificados no setor naval.
Estaleiros e portos como pilares da infraestrutura para projetos offshore
A instalação e operação de parques eólicos no mar exige uma base industrial robusta. Estaleiros são responsáveis pela construção de embarcações de instalação, manutenção e apoio. Portos, por sua vez, são fundamentais para o armazenamento de turbinas, embarque de componentes e suporte logístico.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Naval (Abimaq Naval), existem pelo menos 10 estaleiros no Brasil com capacidade para adaptação ao segmento offshore eólico, especialmente no Nordeste e no Sudeste. Além disso, portos como Suape (PE), Pecém (CE), Rio Grande (RS) e Açu (RJ) já iniciaram adaptações para receber carga projeto e equipamentos eólicos.
Para viabilizar esses avanços, é necessário um plano de modernização portuária, alinhado à expansão da infraestrutura elétrica e à regulamentação ambiental. A ANTAQ, em relatório técnico de 2023, destacou que a energia offshore é um vetor estratégico para o futuro dos portos brasileiros, desde que integrados a políticas industriais e regionais.
Cooperação internacional apoia qualificação e planejamento da infraestrutura naval
A parceria entre Brasil e Reino Unido tem contribuído para o fortalecimento do setor naval e portuário brasileiro, especialmente na adoção de boas práticas e tecnologias. Um memorando de entendimento assinado em maio de 2022 formalizou a troca de conhecimento entre os dois países, com foco em infraestrutura, regulação e inovação.
Durante o Fórum Brasil–Reino Unido sobre Energia Eólica Offshore, realizado em novembro de 2023, foram apresentados modelos britânicos de integração entre portos, estaleiros e empresas desenvolvedoras de energia. A experiência do porto de Hull, por exemplo, foi destaque como referência de reindustrialização e revitalização da economia local por meio da energia eólica.
Além disso, o fórum abordou estratégias de financiamento para modernização de estaleiros e portos, incluindo o uso de green bonds, parcerias público-privadas e fundos climáticos internacionais, conforme relatado pela Embaixada Britânica em Brasília.
Segurança da navegação e compatibilização com áreas portuárias e industriais
O avanço da energia offshore deve ocorrer de forma coordenada com as rotas de navegação, as zonas portuárias e áreas de operação da indústria marítima. A Marinha do Brasil, por meio da Diretoria de Portos e Costas (DPC), vem conduzindo estudos técnicos desde 2021 sobre os impactos das estruturas eólicas nas operações logísticas, embarcações comerciais, cabos submarinos e sistemas de comunicação marítima.
A estimativa é que o setor atraia mais de US$ 200 bilhões em investimentos até 2040. Isso impactará significativamente a modernização dos estaleiros brasileiros.
Muitos desses estaleiros enfrentaram desmobilização desde o recuo da indústria naval, ocorrido após o ano de 2015.
O Plano Nacional de Ordenamento do Espaço Marinho, publicado em 2023, também prevê zonas compatíveis para a instalação de parques eólicos sem interferir em rotas comerciais, atividades pesqueiras ou áreas de interesse naval.
Benefícios esperados para a indústria naval e o emprego local
De acordo com projeções da EPE e da IEA, a cadeia da energia eólica offshore pode gerar mais de 600 mil empregos diretos e indiretos até 2035, principalmente nas regiões litorâneas com estaleiros ativos e vocação portuária.
Esses empregos abrangem desde a engenharia naval e construção de embarcações, até soldagem, montagem de estruturas, operações de guindastes, logística, manutenção e serviços de apoio.
A estimativa é que o setor atraia mais de US$ 200 bilhões em investimentos até 2040. Isso impactará significativamente a modernização dos estaleiros brasileiros.
Muitos desses estaleiros enfrentaram desmobilização desde o recuo da indústria naval, ocorrido após o ano de 2015.
Energia offshore como oportunidade para modernizar a base industrial naval
A expansão da energia eólica offshore no Brasil representa uma oportunidade real para reorganizar a base industrial naval e reativar antigos estaleiros.
Além disso, esse movimento pode ampliar significativamente a participação dos portos na cadeia de valor do setor energético.
Para que esse cenário se concretize, será necessário o alinhamento entre regulação, políticas industriais, qualificação de mão de obra e investimentos em infraestrutura logística e portuária.
Com cooperação internacional e planejamento estratégico, o Brasil pode transformar seu litoral em uma nova fronteira de geração de energia e desenvolvimento sustentável.
Além disso, com segurança regulatória, é possível promover integração industrial e impulsionar o crescimento regional de forma equilibrada e duradoura.