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Energia eólica offshore no Brasil: expansão impulsiona estaleiros, modernização portuária e fortalecimento da indústria naval nacional

Escrito por Caio Aviz
Publicado em 26/03/2025 às 01:38
Navio atracado em porto industrial com turbinas de energia eólica offshore ao fundo, representando a integração entre indústria naval e transição energética.
Navio em terminal portuário ao lado de turbinas eólicas offshore, simbolizando a expansão da indústria naval e o futuro sustentável do setor energético.

Parceria entre Brasil e Reino Unido acelera integração do setor naval à transição energética, com foco em inovação, capacitação técnica e desenvolvimento sustentável de portos e estaleiros

Desde 2022, o Brasil vem ampliando sua cooperação com o Reino Unido para desenvolver projetos de energia eólica offshore e integrar o setor naval.


A parceria internacional visa compartilhar tecnologias, modelos regulatórios e experiências para fortalecer a capacitação técnica e a infraestrutura portuária especializada.


Além disso, busca impulsionar a reindustrialização do setor naval brasileiro, promovendo crescimento sustentável e inovação no mercado de energia limpa.

Energia eólica offshore: uma nova demanda para a indústria naval brasileira

O crescimento global da energia eólica offshore tem gerado oportunidades importantes para os setores de construção naval, manutenção e logística portuária.

De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), a capacidade instalada global da tecnologia ultrapassou 64 GW em 2023.

Os principais destaques foram Reino Unido, Dinamarca, China e Alemanha.

No Reino Unido, o setor naval foi decisivo para viabilizar a construção de 44 parques eólicos offshore, que juntos somam 15 GW de capacidade. O plano energético britânico, lançado em abril de 2022, prevê alcançar 47 GW até 2030.
Para isso, haverá investimentos em estaleiros, embarcações especializadas e serviços de apoio marítimo, segundo o Department for Energy Security and Net Zero.

No Brasil, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) registrou, até dezembro de 2023, 183 GW em projetos eólicos offshore protocolados. Essas iniciativas indicam um potencial de geração que pode exigir a construção e operação de centenas de fundações, torres, cabos eólicas, embarcações de apoio e serviços portuários especializados.

Por isso, o desenvolvimento dessa cadeia representa uma oportunidade concreta para reativar estaleiros, modernizar portos e gerar empregos qualificados no setor naval.

Estaleiros e portos como pilares da infraestrutura para projetos offshore

A instalação e operação de parques eólicos no mar exige uma base industrial robusta. Estaleiros são responsáveis pela construção de embarcações de instalação, manutenção e apoio. Portos, por sua vez, são fundamentais para o armazenamento de turbinas, embarque de componentes e suporte logístico.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Naval (Abimaq Naval), existem pelo menos 10 estaleiros no Brasil com capacidade para adaptação ao segmento offshore eólico, especialmente no Nordeste e no Sudeste. Além disso, portos como Suape (PE), Pecém (CE), Rio Grande (RS) e Açu (RJ) já iniciaram adaptações para receber carga projeto e equipamentos eólicos.

Para viabilizar esses avanços, é necessário um plano de modernização portuária, alinhado à expansão da infraestrutura elétrica e à regulamentação ambiental. A ANTAQ, em relatório técnico de 2023, destacou que a energia offshore é um vetor estratégico para o futuro dos portos brasileiros, desde que integrados a políticas industriais e regionais.

Cooperação internacional apoia qualificação e planejamento da infraestrutura naval

A parceria entre Brasil e Reino Unido tem contribuído para o fortalecimento do setor naval e portuário brasileiro, especialmente na adoção de boas práticas e tecnologias. Um memorando de entendimento assinado em maio de 2022 formalizou a troca de conhecimento entre os dois países, com foco em infraestrutura, regulação e inovação.

Durante o Fórum Brasil–Reino Unido sobre Energia Eólica Offshore, realizado em novembro de 2023, foram apresentados modelos britânicos de integração entre portos, estaleiros e empresas desenvolvedoras de energia. A experiência do porto de Hull, por exemplo, foi destaque como referência de reindustrialização e revitalização da economia local por meio da energia eólica.

Além disso, o fórum abordou estratégias de financiamento para modernização de estaleiros e portos, incluindo o uso de green bonds, parcerias público-privadas e fundos climáticos internacionais, conforme relatado pela Embaixada Britânica em Brasília.

Segurança da navegação e compatibilização com áreas portuárias e industriais

O avanço da energia offshore deve ocorrer de forma coordenada com as rotas de navegação, as zonas portuárias e áreas de operação da indústria marítima. A Marinha do Brasil, por meio da Diretoria de Portos e Costas (DPC), vem conduzindo estudos técnicos desde 2021 sobre os impactos das estruturas eólicas nas operações logísticas, embarcações comerciais, cabos submarinos e sistemas de comunicação marítima.

A estimativa é que o setor atraia mais de US$ 200 bilhões em investimentos até 2040. Isso impactará significativamente a modernização dos estaleiros brasileiros.

Muitos desses estaleiros enfrentaram desmobilização desde o recuo da indústria naval, ocorrido após o ano de 2015.

O Plano Nacional de Ordenamento do Espaço Marinho, publicado em 2023, também prevê zonas compatíveis para a instalação de parques eólicos sem interferir em rotas comerciais, atividades pesqueiras ou áreas de interesse naval.

Benefícios esperados para a indústria naval e o emprego local

De acordo com projeções da EPE e da IEA, a cadeia da energia eólica offshore pode gerar mais de 600 mil empregos diretos e indiretos até 2035, principalmente nas regiões litorâneas com estaleiros ativos e vocação portuária.

Esses empregos abrangem desde a engenharia naval e construção de embarcações, até soldagem, montagem de estruturas, operações de guindastes, logística, manutenção e serviços de apoio.

A estimativa é que o setor atraia mais de US$ 200 bilhões em investimentos até 2040. Isso impactará significativamente a modernização dos estaleiros brasileiros.

Muitos desses estaleiros enfrentaram desmobilização desde o recuo da indústria naval, ocorrido após o ano de 2015.

Energia offshore como oportunidade para modernizar a base industrial naval

A expansão da energia eólica offshore no Brasil representa uma oportunidade real para reorganizar a base industrial naval e reativar antigos estaleiros.
Além disso, esse movimento pode ampliar significativamente a participação dos portos na cadeia de valor do setor energético.

Para que esse cenário se concretize, será necessário o alinhamento entre regulação, políticas industriais, qualificação de mão de obra e investimentos em infraestrutura logística e portuária.

Com cooperação internacional e planejamento estratégico, o Brasil pode transformar seu litoral em uma nova fronteira de geração de energia e desenvolvimento sustentável.

Além disso, com segurança regulatória, é possível promover integração industrial e impulsionar o crescimento regional de forma equilibrada e duradoura.

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