Breve história da construção naval ou indústria naval
A construção naval, ou indústria naval, é a atividade responsável que consiste na construção de novas unidades operacionais navais, bem como por seu reparo e sua manutenção.
As primeiras embarcações conhecidas eram as jangadas, com evidências arqueológicas do uso de barcos que remontam de 50 a 60.000 anos atrás, na Nova Guiné. Já os primeiros barcos a lenha na Europa têm entre 8 e 9.000 anos.
Os primeiros barcos de tábuas eram frequentemente costurados ou costurados juntos. Os navios da Antiguidade eram montados à maneira de encaixe e espiga. Desde os tempos medievais, as pranchas eram fixadas com estacas de madeira ou rebites de ferro.
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Os primeiros navios a vela apareceram no Egito ou na Mesopotâmia por volta de 3500 aC. Navios realmente grandes foram construídos na Roma imperial, capazes de carregar até cerca de 1000 toneladas.
No Antigo Egito há provas de que já se conheciam as técnicas para usar madeiras planas para formar um casco, juntando-as com espigões de madeira e pez para calafetar, chegando a ter 25 metros de comprimento e um só mastro. Um famoso navio grande da antiguidade era o Syrakosia de Alexandria, um navio real de três mastros, com cerca de 70 m de comprimento.
Grandes navios também foram feitos por volta de 1000 DC na China, carregando também cerca de 1000 toneladas.
Já no Mediterrâneo, a vela quadrada desapareceu no século VI e reapareceu no século XIV. Nesse ínterim, a plataforma latina triangular era dominante.
O desenvolvimento da navegação na época greco-romana levou à construção de galé(s), amplos trirremes e quinquirremes.
Até a Idade Média, todos os navios nórdicos eram construídos em clínquer usando o método shell-first, onde as toras eram divididas radialmente e modeladas com um machado. Só mais tarde, as tábuas foram serradas. Estas mudanças foram impulsionadas pela roda dentada e pelo casco construído, a partir do século XV, que era necessário para os navios de guerra apoiarem os canhões. Os navios construídos pela Carvel eram geralmente construídos com o método do esqueleto.
Nesta época, a navegação sofreu uma estabilização que não se recuperou até a primeira cruzada, quando novos barcos (urnas) e a reativação das rotas comerciais marítimas impulsionou novamente a viagem por mar.
Em 1807, o americano Robert Fulton criou o primeiro navio a vapor, feito com um casco de madeira e remos usados. Por volta de 1830, as hélices de navios foram gradualmente desenvolvidas por vários inventores, incluindo Josef Ressel, John Patch e Francis Pettit Smith. Durante os próximos 150 anos, os navios com motor a vapor ou a combustão competiriam com as velas. Os últimos grandes veleiros estavam em serviço na América do Sul na década de 1950.
Nos países nórdicos, onde a madeira é abundante, a construção naval comercial de madeira existia até recentemente. Os arrastões de pesca eram feitos de madeira na Suécia até aos anos 60, e na Dinamarca e Finlândia até aos 80. Existem possivelmente alguns estaleiros na Noruega que ainda constroem traineiras de pesca com madeira, usando tecnologia moderna de madeira laminada / cola.
A construção de pequenos navios em madeira era praticada na década de 1980, na Escócia, e possivelmente em países como Espanha, Grécia, Maine e Nova Escócia. Em Portugal, os barcos de pesca são ainda, nos anos 1990, de madeira em Vilamoura (Algarve) e em Peniche. A construção de navios de madeira também é comum em outras partes do mundo, como por exemplo no Egito e Índia.
Durante o século 19, o ferro e o aço gradualmente assumiram a produção de cascos de madeira. O aço era preferido por ser mais forte do que o ferro e, a partir da década de 1870, o aço foi usado em vez das placas de ferro forjado mais fracas. Os primeiros cascos de ferro e aço foram rebitados, mas a partir da década de 1940 em diante, os navios de aço costumam ser soldados.
Conheça a segmentação da indústria da construção naval
A indústria da construção naval engloba a indústria de defesa na fabricação de embarcações militares; bem como a atuação das atividades de apoio portuário e apoio às atividades offshore, barcos de apoio e outras estruturas para exploração e produção de petróleo em alto mar.
Além disso, a construção naval também abrange a construção das embarcações utilizadas no setor aquaviário para o transporte de carga e passageiros da marinha mercante.
O mercado de construção de navios da marinha mercante pode ser segmentado por tipo de navio, de acordo com a carga transportada, operação a que se destina ou por combinações entre carga e operação.
Já do ponto de vista de navegação, os navios podem ser empregados em navegação de longo curso, cabotagem ou em águas interiores, conforme previsto na legislação brasileira.
Dentro do mercado de transporte de cargas, os navios podem ser classificados como transportadores de graneis e em navios de carga geral. Do ponto de vista comercial, os navios granéis dividem-se em sólidos, conhecidos como graneleiros, ou líquidos, denominados navios tanque.
Há ainda os navios de carga combinada, projetados para atuar em ambos os mercados com o transporte de granéis sólidos e líquidos.
No setor especialista, existem os navios que são projetados para o transporte de gases. Os mais conhecidos são os navios transportadores de gás liquefeito de petróleo (LPG) e os navios transportadores de gás natural liquefeito (LNG).
Já as cargas frigoríficas são transportadas por navios porta contêineres térmicos ou refrigerados, que contam com um sistema de refrigeração para o transporte de mercadorias perecíveis.
Por fim, os navios denominados Ro-Ro, que em inglês significa Roll on-Roll off, são embarcações projetadas para auxiliar no embarque de cargas conduzidas por veículos sobre rodas autopropelidos.
Conheça a história da indústria da construção naval no Brasil
A indústria de construção naval no Brasil está presente desde os tempos coloniais, época em que foram construídos os estaleiros tanto para reparação de embarcações como para projeto e construção. A posição geográfica e estratégica da colônia em relação à rota da Índia foi um fator determinante para isso, além da grande disponibilidade de madeira de boa qualidade.
As primeiras embarcações de tipo europeu foram dois bergantins feitos na área do Rio de Janeiro, em 1531.
O primeiro estaleiro, chamado Ribeira das Naus, foi implantado na Bahia no final do século XVI. A Junta das Fábricas da Ribeira, do estaleiro de Lisboa, ditava as proporções e regras para padronização da construção naval brasileira. Essas padronizações (o equivalente às normas técnicas de hoje) vigoraram até fins do século XVII e chegaram a ser empregadas no Brasil até meados do século XIX.
A indústria naval segue crescendo, com a construção da Nau Padre Eterno no Rio de Janeiro, por volta de 1670, que foi considerado o maior navio do mundo da época. Em 1763 foi criado o Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro, bem como outros Arsenais da Marinha foram organizados no litoral brasileiro, especificamente em Recife e Belém.
Resultado da contínua ampliação e modernização do Arsenal do Rio de Janeiro, surge o primeiro navio a hélice data de 1852, o primeiro encouraçado de 1865, e o primeiro inteiramente metálico de 1883
Em seguida, continuou-se essa modernização com a construção de corvetas. O maior desafio enfrentado na época, era a construção dos submarinos da classe Tupi, de projeto alemão, que possibilitou o Brasil a figurar uma posição de destaque dentre os países no mundo capazes de construir submarinos. A história da construção naval no Brasil segue em ascensão até 1979, ano em que uma grave crise ocorre no setor, retomado posteriormente com a descoberta da camada do pré-Sal.
Principais construtores mundiais da indústria naval
A construção naval, é na verdade, uma indústria montadora que depende de mão-de-obra e de fornecedores de demais componentes. Destaca-se neste mercado, países como Coréia do Sul, Japão, China, EUA, além da União Europeia.
Coréia do Sul
Os principais fatores que impulsionaram o desenvolvimento da construção naval na Coréia do Sul foram posição geográfica privilegiada, mão-de-obra abundante e de baixo custo, forte capacidade gerencial, capacidade tecnológica e, principalmente, altíssimos investimentos dos “chaebol” (grandes conglomerados empresariais, de controle familiar).
Pode-se destacar no país, quatro grandes grupos empresariais atuando no setor naval, a saber: “Hiundiay Heavy Industries”, com elevado nível de automação; “Daewoo Shipbuilding & Heavy Machinery”, um dos mais modernos do mundo; “Samsung Heavy Industries”; e “Hanjin Heavy Industries”.
Japão
Não há dados de que o país se utiliza, em larga escala, de mecanismos de auxílio governamental para a construção naval.
A importação de navios novos é isenta de tarifas alfandegárias, enquanto as importações de materiais e equipamentos para construção são taxadas. Além disso, não há deduções fiscais especiais para a indústria naval em relação a lucros corporativos, ou à depreciação dos estaleiros.
Há linhas de crédito para financiamento oferecidas pelo governo para construção de navios destinados à exportação e instalação de antigos estaleiros para outros usos.
A indústria naval japonesa aposta na estratégia de produção de graneleiros em grande escala mundial para intensificar sua competitividade em um contexto mundial de acirrada competição internacional.
Um outro segmento em que os japoneses têm procurado se especializar é o de construção de porta-contêineres, produzindo os “Technosuperliners”, que são navios de grande porte e de alta velocidade.
China
A China ocupa uma posição de destaque dentre os maiores construtores mundiais da construção naval, com significativa produção para armadores estrangeiros.
Destaca-se três centros de construção naval na China. O centro mais importante, que concentra grande parte da produção, está localizado na região de Shangai, formado a partir do estaleiro Shangai jiangnam, limitado à construção de navios “Panamax” (navios para transporte de produtos, com dimensões que possibilitam sua passagem, carregado, pelas eclusas do Canal do Panamá, comprimento máximo 294m, boca de até 32m e calado máximo de 12m).
O segundo centro mais importante, sedia o primeiro estaleiro de construção de Navios Tanque de Grande Porte (Very Large Crude Carriers – VLCC, navios tanque de grande capacidade, com cerca de 150 a 200 mil tpb). Já o terceiro centro é Guangzhou. Os demais estaleiros chineses, de menor porte, estão espalhados pelo país.
Estados Unidos da América – EUA
Os EUA registram uma história de forte auxílio governamental à sua indústria de construção naval.
Dentre os principais programas, destacam-se o Title XI Ship Loan Garantee Program, Jones Act e Passenger Act, Merchant Marine Act e o Marine Security Act. Estes programas permitiam a substituição de petroleiros, asseguram a sustentação de pequenas empresas que operavam na navegação de cabotagem e viabilizam a existência de estaleiros de pequeno porte, além de estabelecer uma reserva para o mercado de cargas e autorizar o estabelecimento de uma frota mercante em condições de ser mobilizada.
Por fim, os EUA possuem seis grandes estaleiros conhecido como os big six. São eles: Avondale Industries de New Orleans; o Bata Iron Works Bath ME e o Eletric Boat Groton CT, ambos controlados pela General Dynamics; o Ingalls Shipbuilding Pascagoula MS; o National Steel & Shipbuilding Co, de San Diego e o Newport News Shipbuilding.
União Européia (UE)
Os principais grupos empresariais atuantes na construção naval militar na Europa estão concentrados em países que têm, atualmente, maior projeção no mercado exportador e são detentores de tecnologia própria.
Na Inglaterra, destaca-se as empresas: Bae Systems- Sea Systems e Vosper Thornycroft.
Figura-se na França a DCN (Brest, Lorient E Cherbourg) e Alstom Atlantique.
Já na Alemanha, temos a HDW, Blohm & Vosselgmbh e Thyssen Nordseewerke.
Na Itália, o destaque fica para a empresa Fincantieri (Riva Trigoso e Muggiano).
A Rússia, a maior delas é a Rosoboronexport (Military Shipbuilding, Baltic Shipyard e Severny Shipyard).
Por fim, a Espanha, com a Izar Cartagena.
Indústria naval busca a sustentabilidade
A demanda por opções mais sustentáveis vem tomando cada vez mais espaço em todos os setores.
A indústria naval tem buscado melhorias contínua pensando em um futuro mais verde. No Brasil, a construção naval desenvolveu-se tecnologicamente, conquistou competitividade, produtividade e tem atraído novos agentes. O Porto de Pecém, no Ceará, concede descontos para navios sustentáveis, tornando-se o primeiro porto brasileiro reconhecido pelo Green Award.
A fabricante alemã Schottel desenvolveu uma tecnologia de sistema híbrido mecânico, chamado de Sydrive-M, que traz benefícios que vão além da economia de combustível. Ela reduz a emissão de CO2, o principal gás causador das mudanças climáticas, além de apresentar um potencial impacto na Time Between Overhaul – TBO do Motor de Combustão Principal (MCP), conforme perfil de trabalho do motor.