Piratas fluviais adotam drones para monitorar alvos e atacar embarcações no coração da Amazônia, elevando o risco para tripulações e cargas em rotas estratégicas. A combinação de tecnologia com violência muda o cenário do transporte na região.
Em uma realidade cada vez mais digna de um filme de ação, os rios do Amazonas se tornaram palco de uma guerra silenciosa onde criminosos utilizam drones para espionar, perseguir e atacar embarcações carregadas de combustíveis.
Essas tecnologias, que antes pareciam restritas a operações militares ou ao agronegócio, agora estão nas mãos de piratas fluviais, transformando o cotidiano de tripulantes em um jogo constante de risco e tensão.
Segundo o presidente do Sindarma (Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial do Estado do Amazonas), Galdino Alencar, os ataques se tornaram mais sofisticados e frequentes.
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Durante o Fórum Segurança nas Operações Aquaviárias no Norte do Brasil, realizado em Manaus na semana passada, Alencar revelou que o uso de drones para monitorar balsas nos rios da região se tornou prática comum entre os criminosos.
Vigilância aérea criminosa se espalha pelos rios
De acordo com os relatos colhidos pelo sindicato, os drones são utilizados para identificar alvos estratégicos, observar cargas, reconhecer rotas e até ameaçar tripulações durante a navegação, inclusive durante a noite.
“Nos últimos meses estamos recebendo cada vez mais esta notificação das tripulações. É mais um problema que temos que enfrentar, uma vez que os piratas estão utilizando vários drones simultaneamente para inspecionar as balsas, a carga transportada e ameaçar os tripulantes”, afirmou o dirigente.
Embora não haja um número exato de ocorrências recentes com o uso de drones, o histórico recente é alarmante.
Entre outubro de 2020 e dezembro de 2023, foram roubados 7,7 milhões de litros de combustíveis nos rios da região, gerando um prejuízo estimado em R$ 48 milhões.
Segundo o Sindarma, os ataques aumentaram 105% nesse período em comparação aos anos anteriores, o que revela uma escalada preocupante na ousadia e na capacidade dos piratas.
Criminosos usam armamento pesado e lanchas velozes
Além da vigilância aérea, os piratas dos rios se destacam pelo uso de armamento de grosso calibre e embarcações de alta velocidade, capazes de alcançar e abordar balsas com grande agilidade.
As tripulações, muitas vezes, ficam reféns por horas enquanto as cargas são saqueadas.
Como reação, as empresas transportadoras passaram a adotar escoltas armadas privadas para proteger suas operações fluviais.
Essa medida, implementada com o apoio das distribuidoras de combustíveis, trouxe resultados importantes, embora ainda insuficientes diante do avanço das ameaças.
“Desde que implantamos as escoltas armadas privadas para acompanhar as embarcações, o sucesso das quadrilhas foi reduzido drasticamente, mas isso não significa que as tentativas e ameaças acabaram. As trocas de tiros são quase diárias e agora com o uso dos drones, a situação fica mais complicada”, alerta Alencar.
Garimpo ilegal também ameaça segurança fluvial
Como se não bastasse a ameaça dos piratas, as operações de garimpo ilegal no Rio Madeira adicionam um novo nível de risco à navegação na região Norte.
Estima-se que atualmente existam cerca de duas mil dragas em operação apenas no Rio Madeira, muitas delas em situação irregular e posicionadas diretamente no canal de navegação, dificultando a passagem de embarcações maiores.
Essas dragas, além de representar perigo físico à navegação, criam um ambiente de instabilidade que favorece ações criminosas, pois a fiscalização na região se torna mais difícil e fragmentada.
Insegurança nos rios desafia autoridades e setor logístico
O cenário que se desenha no Norte do Brasil é de um verdadeiro campo de batalha fluvial.
Empresas de transporte, autoridades e sindicatos enfrentam desafios cada vez mais complexos para garantir a segurança de embarcações, tripulações e cargas.
A combinação de drones espiões, armamento pesado e rotas vulneráveis criou um ambiente onde o transporte aquaviário opera sob constante ameaça, exigindo respostas urgentes e coordenadas do poder público e da iniciativa privada.
Especialistas têm cobrado maior atuação da Marinha do Brasil, da Polícia Federal e das forças de segurança estaduais, além de investimentos em tecnologias de defesa e inteligência fluvial.
Apesar de alguns avanços pontuais, como o uso de escoltas e monitoramento via satélite, a sensação entre os profissionais do setor é de que a segurança continua frágil diante da sofisticação das quadrilhas.
Impacto econômico e social
Os prejuízos não afetam apenas as empresas.
O aumento nos custos de transporte e nas perdas de carga impacta diretamente o preço dos combustíveis e produtos básicos para as populações ribeirinhas e urbanas da região Norte.
Além disso, a insegurança gera retração econômica, desestimula investimentos e coloca em risco empregos em um setor fundamental para a logística amazônica.
Em um território onde as estradas são raras e os rios funcionam como artérias vitais de abastecimento, proteger a navegação fluvial é garantir o funcionamento básico da economia regional.