Projeto da Marinha do Brasil avança com apoio do Prosub, mas enfrenta desafios orçamentários que podem adiar a entrega do primeiro submarino com propulsão nuclear para além de 2035.
O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), criado pela Marinha do Brasil em 2008, avança para uma nova e decisiva etapa em 2024: a construção do primeiro submarino brasileiro com propulsão nuclear, o Almirante Álvaro Alberto. Após a entrega de dois submarinos convencionais da classe Riachuelo e a construção de outros dois em andamento, o foco do programa volta-se agora à consolidação da terceira fase, mais complexa e estratégica, que colocará o Brasil entre os poucos países com domínio dessa tecnologia.
Submarino nuclear brasileiro depende de novo contrato com grupo francês
O submarino nuclear brasileiro, previsto inicialmente para ser lançado entre 2034 e 2035, depende da formalização de um novo contrato com o Naval Group, consórcio francês parceiro da Marinha desde o início do Prosub. A negociação inclui também a participação da Novonor, responsável pela infraestrutura no Complexo Naval de Itaguaí, no litoral do Rio de Janeiro, onde a embarcação será construída.
Contudo, a continuidade do projeto enfrenta limitações orçamentárias. O orçamento atual do Prosub, junto ao reator nuclear em Iperó (SP), está estabilizado em torno de R$ 2 bilhões por ano. Embora a proposta para 2025 preveja um leve aumento para R$ 2,1 bilhões, a Marinha estima que serão necessários pelo menos R$ 1 bilhão adicionais anuais para manter o cronograma original. Sem esse reforço, o lançamento do submarino pode ser adiado para a década de 2040.
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Brasil busca entrar no seleto grupo de países com submarino nuclear
Atualmente, apenas seis países dominam a tecnologia de submarinos com propulsão nuclear: Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França e Índia. Ao ingressar nesse grupo, o Brasil reforçaria significativamente sua capacidade de dissuasão estratégica e ampliaria sua presença em áreas marítimas de interesse, como a Amazônia Azul, região de 3,5 milhões de km² rica em biodiversidade, petróleo e responsável por grande parte do comércio exterior brasileiro.
A construção do Almirante Álvaro Alberto será um marco na história da Marinha do Brasil, representando o ápice do conhecimento nacional em engenharia naval, energia nuclear e defesa marítima.
Avanços no reator nuclear e no Complexo de Iperó
O desenvolvimento do sistema de propulsão nuclear ocorre no município de Iperó (SP), onde estão localizados o Laboratório de Enriquecimento Isotópico (LEI) e o Labgene, protótipo terrestre do reator que será usado no submarino. A Marinha pretende tornar o sistema plenamente funcional até 2027 ou 2028, permitindo o início efetivo da construção do casco com a propulsão integrada.
Paralelamente, o governo brasileiro negocia com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) os protocolos de fiscalização das instalações nucleares, com o compromisso de que o submarino não terá armamento nuclear. A proposta, já apresentada pelo Itamaraty, visa garantir a transparência do programa e o respeito aos tratados internacionais de não proliferação.
Prosub: resultados e próximos passos
O Prosub já entregou duas embarcações da classe Riachuelo:
- S40 – Riachuelo (já incorporado à frota)
- S41 – Humaitá (lançado em 2024)
Outros dois submarinos estão em construção:
- S42 – Tonelero (previsão de entrega em 2025)
- S43 – Almirante Karam (previsão para 2026)
Esses submarinos convencionais, movidos a diesel-elétrico, reforçam a defesa marítima do Brasil, especialmente no monitoramento da Amazônia Azul. No entanto, a grande ambição do programa permanece sendo o submarino com propulsão nuclear, que proporcionará maior autonomia, velocidade e capacidade de permanência submersa, características estratégicas em um cenário de defesa.
Desafios orçamentários e impactos na frota da Marinha
Além do Prosub, a Marinha do Brasil enfrenta um cenário de restrições financeiras ainda mais preocupante. Até 2028, cerca de 43 embarcações – 40% da frota atual – devem ser desativadas, sem previsão de reposição em ritmo equivalente.
O comandante da Marinha, almirante Marcos Olsen, defende a aprovação de uma PEC que estabelece o orçamento das Forças Armadas em 2% do PIB, mas a proposta segue parada no Senado. Como alternativa, o Ministério da Defesa propõe um piso de 1,5% da receita corrente líquida.
Essas dificuldades afetam diretamente a capacidade da Marinha de manter e renovar sua frota, o que reforça a urgência de garantir recursos estáveis e de longo prazo para o Prosub.
Submarino nuclear brasileiro: um projeto de soberania
O desenvolvimento do submarino nuclear brasileiro é mais do que um avanço tecnológico: representa um projeto de soberania nacional em áreas estratégicas. A capacidade de construir e operar um submarino com propulsão nuclear, sem depender de assistência externa, fortalece a posição do Brasil no cenário internacional e garante maior proteção aos seus interesses marítimos.
Com o avanço do Prosub, o Brasil demonstra sua capacidade técnica e científica, mesmo diante de limitações orçamentárias, reafirmando o compromisso com o fortalecimento da Marinha do Brasil e da indústria de defesa nacional. A conclusão do Almirante Álvaro Alberto será, sem dúvida, um divisor de águas na história militar e tecnológica do país.