Atualmente, o mundo presencia uma profunda transformação em diversos setores. Por consequência da constante globalização, algumas empresas estão adiantando os seus processos de modo a se adaptar ao novo mercado. Neste sentido, um dos setores mais competitivos, o setor naval, ajusta a sua conduta a fim de não ficar para trás diante dos avanços.
Dessa forma, a indústria naval caminha para integrar a transformação digital a novos meios de atual. Inclusive, vale salientar que antes da pandemia do Covid-19, a transformação digital já era considerada acelerada e essencial para o bom mantimento de uma empresa, com o setor naval não poderia ser diferente.
No Brasil, a realidade não poderia ser outra: diversas organizações já adotam iniciativas digitais, para poder se adaptar aos novos tempos. Embora a maturidade digital só ocorra após um longo processo, ações pontuais direcionam os mais variados setores a globalização, que é um processo sem volta.
Neste sentido, podemos dizer que um dos setores que mais depende dessa adaptação é o setor naval. Segundo Frederico Cupello, CEO da Ghenova Brasil, a construção naval não acompanha o ritmo de outras indústrias, tais como a indústria automobilística.
Contudo, a integração é uma das missões do setor naval para os próximos anos. Isso porque a transformação digital é a grande pauta do momento, especialmente por incluir a indústria na inédita indústria 4.0, que estabelecerá a indústria naval brasileira como uma das mais influentes do mundo.
Conhecida por oferecer serviços de engenharia multidisciplinar diversos, além de consultorias nos setores de energia, indústria naval e aeronáutica, a Ghenova aponta que o uso de novas tecnologias é essencial para garantir o processo no setor civil. Isso porque tais tecnologias podem ser instaladas antes das edificações, o que diminui a quantidade de horas de instalações a bordo.
Sendo assim, a transformação digital é um pontapé fundamental para o crescimento da indústria naval. Logo, iniciativas de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) já são realidade na Europa, sendo uma oportunidade indispensável para os estaleiros europeus, especializados em embarcações de grande complexidade.
Para fornecer uma análise sobre o mercado naval, Cupello apontou que o mercado de defesa é um dos pioneiros na adoção de novas tecnologias. Além disso, ele afirmou que a Ghenova possui grande interesse em tais iniciativas, e que soluções do tipo estão entre as mais procuradas no setor.
Como a transformação digital pode mudar o setor naval
Nesta perspectiva, algumas iniciativas já estão sendo afloradas na indústria naval. Assim, alguns processos já são mais automatizados, tais como redução de massa no projeto de módulos topside, desenvolvimento de geometrias parametrizadas, levantamento de deformações térmicas em navios-tanque, aumento da capacidade de carga de guindastes, entre outros.
Além disso, o CEO da Ghenova Brasil apontou outras mudanças que o setor naval vem sofrendo, tais como pintura, tratamento, corte e chanfro de chapas, preparação e finalização de chanfros em tubos e chapas, dentre muitos outros. Para ele, o mercado naval abraçou as novas tecnologias de forma lenta, envolvido em projetos do tipo “customer built”.
Ademais, outros apontamentos da multinacional ESSS, sugerem soluções para o avanço tecnológico do setor naval. Dentro dela, está a área de simulação computacional, que desenvolveu simulações multi físicas, análises de falhas e fadigas, eletromagnetismo, previsões acústicas, dinâmica de fluidos, entre muitos outros.
Nesta perspectiva, a simulação computacional vem sendo uma “mão na roda” na vida dos engenheiros. Isso porque ela possibilita testes virtuais, que prometem uma melhor eficácia em um tempo menor de obra. Além disso, esses testes não comprometem a prototipagem de projetos futuros, tornando a adoção das simulações um benefício financeiro para as empresas do setor naval.
Dentre os benefícios das simulações computacionais, está a oportunidade dos fabricantes de navios e outras embarcações mais modernas de desenvolver projetos que analisem, construam e testem modelos mais eficientes, comprovando a capacidade funcional dos seus produtos.
Como consequência, temos um cenário onde é possível ajustar as mudanças necessárias ao longo do processo de construção, otimizando os atrasos que podem ocorrer, além de reduzir custos operacionais. Ademais, as empresas que adotam este sistema ainda consegue sair na frente das concorrentes de mercado.
Segundo Karolline Ropelato, membro da ESSS, as tecnologias de simulação são usadas para desenvolver diferentes tipos de embarcações, o que abrange desde plataformas offshore até unidades semi-submersíveis, o que também inclui barcaças, fragatas, cruzeiros, entre outros.
Uma nova realidade para o setor naval
Sendo assim, a partir do uso dessas ferramentas de análise – que estão presentes em cada fase de um projeto de navio – é possível otimizar o seu desempenho a partir da simulação proposta, gerando integridade estrutural, durabilidade, confiabilidade e custos mais acessíveis no setor naval.
Para a especialista, a simulação computacional é uma grande tendência da indústria naval ao redor do mundo. Isso porque ela permite construir navios e outras embarcações de forma moderna, mas com custos reduzidos e um processo de construção mais eficiente e prático.
Como exemplo, ela citou o Delta Marina, conhecida empresa construtora de iates, que levava até seis meses para realizar o cálculo dinâmico de casco através da ISO 6954. Com a simulação, a empresa passou a calcular um simples casco em apenas dois dias!
Para Karolline, a mudança já é uma realidade. Por isso, ela citou diversas empresas públicas e privadas que já adotam a simulação computacional. Entre as empresas que abraçam a novidade estão a Petrobras, Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), Centro de Projetos de Navios (CPN), DBR Energies (Doris), entre outras,
Além disso, ela citou a empresa Mechanical, que já realiza análises estruturais, por meio do Método de Elementos Finitos. Assim, é possível avaliar a estática e dinâmica da construção, sem contar a interação solo-estrutura do projeto, para equipamentos submarinos e sistema de ancoragem.
Ademais, a especialista ainda cita o trabalho daFluent e CFX, que desenvolveu a análise de fluidodinâmica computacional (CFD), para avaliar sistema de propulsão, impactos de ondas em plataformas, embarque de água, entre outros. Assim, os esforços da Motion também vale a menção: eles possuem uma análise dinâmica de múltiplos corpos para avaliar o içamento de equipamentos e estruturas.
Atualmente, os esforços públicos e privados para atualizar o setor naval não está sendo em vão. Isso porque o novo navio de apoio antártico da Marinha estará pronto em até 36 meses, mostrando que a pesquisa científica do mercado naval está atrelada às novas tecnologias.
Por isso, o especialista Daniel Fonseca de Carvalho e Silva, consultor da Petrobras, mencionou os benefícios da simulação para a engenharia oceânica, especialmente por reduzir drasticamente os ensaios experimentais para projetar plataformas.