Proposta apresentada por Trump prevê uma transformação radical no setor marítimo norte-americano, com foco em infraestrutura e competitividade global
O governo Trump anunciou um plano ambicioso para reformar completamente o setor marítimo dos Estados Unidos. O objetivo eé aumentar a capacidade do país na construção naval, para enfrentar diretamente o domínio atual da China nessa indústria.
O presidente anunciou oficialmente a criação de um escritório especializado dentro do Conselho de Segurança Nacional para coordenar essa reforma.
O rascunho da ordem executiva obtido pelo USNI News revela que os EUA pretendem recuperar uma posição forte na construção naval comercial e militar. Atualmente, a capacidade americana nessa área é muito inferior à chinesa, que chega a ser mais de 200 vezes superior, segundo documentos da Casa Branca.
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Escritório de construção naval
Para executar o plano, o governo criará um novo escritório chamado “Base Industrial Marítima“. Esse escritório será liderado por Ian Bennitt e Cameron Humphrey, dois ex-funcionários do Capitólio que agora integram a administração Trump. O presidente destacou a importância desse passo durante discurso recente ao Congresseo.
“Ressuscitaremos a indústria de construção naval americana, incluindo a construção naval comercial e a militar”, afirmou Trump. “Costumávamos fazer muitos navios. Não os fazemos mais tanto, mas isso mudará muito rápido, muito em breve. Terá um impacto enorme.”
Plano de ação marítima
Vários departamentos governamentais terão seis meses para elaborar um Plano de Ação Marítima abrangente. Entre eles, estão os departamentos de Defesa, Comércio, Estado, Transporte e Segurança Interna. O documento prevê investigar práticas comerciais injustas da China na logística e construção naval.
Além disso, o plano propõe um fundo fiduciário de segurança marítima financiado por tarifas e impostos. Esse fundo oferecerá incentivos financeiros específicos para impulsionar a indústria americana durante nove anos. Zonas especiais, chamadas “zonas de oportunidade marítima“, também serão estabelecidas para atrair investimentos diretos.
“Os Estados Unidos precisam de uma fonte de financiamento flexível, semelhante a um fundo soberano, que permita concretizar nossa visão afirmativa para a indústria marítima“, diz um trecho do documento.
Novas taxas alfandegárias
Uma das medidas previstas envolve a cobrança do Imposto de Manutenção Portuária sobre cargas estrangeiras. O Departamento de Segurança Interna deverá garantir que cargas destinadas aos EUA e descarregadas no México ou Canadá paguem integralmente essas taxas e uma taxa adicional de 10%.
“Toda carga estrangeira deverá passar pelo processo alfandegário americano, garantindo cobrança total de taxas e impostos“, afirma a ordem executiva.
Reforma no processo de aquisição
Outro ponto importante da ordem executiva é a revisão completa do processo de aquisição. A nova agência, Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), liderada pelo empresário Elon Musk, conduzirá essa revisão. O objetivo é simplificar e melhorar os métodos utilizados pelos departamentos de Defesa e Segurança Interna.
A ordem executiva prevê ainda uma revisão rigorosa dos atrasos e custos elevados nos principais programas da Marinha, incluindo submarinos e sistemas não tripulados.
Essa nova revisão ocorre um ano após relatório semelhante, conduzido pelo ex-secretário da Marinha Carlos Del Toro, apontar atrasos generalizados.
Melhoria salarial para trabalhadores
A proposta também resgata ideias do plano conhecido como Shipyard Accountability and Workforce Support (SAWS), anteriormente rejeitado pelo Escritório de Gestão e Orçamento do governo Biden.
Esse plano permitiria à Marinha aumentar os salários dos trabalhadores em estaleiros nucleares utilizando recursos já existentes.
Em detalhes, a Marinha poderia adiantar dinheiro para submarinos ainda não contratados, garantindo melhores salários para profissionais essenciais como encanadores e soldadores. Um fundo separado cobriria salários de operadores de guindaste e supervisores.
O futuro
O especialista Sal Mercogliano, professor da Universidade Campbell, ressalta que essa iniciativa marca uma das maiores atenções já dadas ao setor marítimo em cinco décadas.
Segundo ele, o mercado enfrenta atualmente incertezas devido a uma série de regulamentações recentes, e a nova ordem executiva adiciona mais complexidade à situação.
“Estamos vendo uma enxurrada de leis, tarifas e ordens executivas que impactam diretamente o transporte marítimo“, afirmou Mercogliano. “Algumas dessas medidas terão efeito imediato, enquanto outras influenciarão o mercado no médio prazo.”
Para ele, apesar das dúvidas, o momento é também de oportunidade para os operadores americanos. “É um momento único para os EUA reposicionarem sua indústria marítima e enfrentarem desafios globais, especialmente vindos da China.“
Mercogliano lembrou ainda que o último grande movimento nesse sentido ocorreu há 50 anos, quando o presidente Richard Nixon aprovou a Lei da Marinha Mercante em 1970, criando empréstimos para estimular a construção naval comercial americana.
Com a nova ordem executiva, Trump busca restabelecer a posição histórica dos Estados Unidos no setor marítimo.
Para os próximos meses, toda a indústria estará atenta ao detalhamento do plano, que promete mudanças significativas para a construção naval americana e para a economia do país.