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Fragata USS Constellation sofre atrasos e amplia desafios da Marinha dos EUA diante da expansão naval da China

Escrito por Caio Aviz
Publicado em 27/03/2025 às 12:49
Fragata USS Constellation da Marinha dos EUA em construção naval, classe Fincantieri, navegando em mar calmo sob céu azul. Imagem: Divulgação/Poder Naval
Fragata USS Constellation (número 62), projeto da Marinha dos EUA com atrasos na construção, parte da classe Fincantieri. Imagem: Divulgação/Poder Naval

Análise detalha os principais fatores técnicos, cronológicos e estruturais que afetam a construção naval norte-americana e o crescimento da frota chinesa

Desde o anúncio do projeto da fragata USS Constellation, em 2020, os Estados Unidos enfrentam obstáculos técnicos e estruturais na construção de navios militares. Enquanto isso, a China segue ampliando sua capacidade naval, com base em planejamento estratégico e volume de produção.

Projeto da fragata USS Constellation enfrenta atrasos e revisão de orçamento

Em abril de 2020, o estaleiro Fincantieri Marinette Marine, localizado em Wisconsin, recebeu o contrato para construir a fragata USS Constellation, com base em um modelo já testado pela Marinha italiana.

A expectativa inicial era de que o primeiro navio fosse entregue até 2026. No entanto, devido a modificações estruturais no projeto original e a revisões técnicas adicionais solicitadas pela Marinha dos EUA, a construção foi iniciada apenas em agosto de 2022.

Até março de 2025, os responsáveis pelo projeto concluíram cerca de 10% da estrutura física. Segundo apuração do The Wall Street Journal (janeiro de 2024), eles também elevaram o custo estimado do projeto de US$ 1,3 bilhão para aproximadamente US$ 1,9 bilhão.

Atualmente, a previsão de entrega do primeiro navio foi estendida para 2029, o que evidencia os desafios na execução do cronograma.

Expansão da marinha chinesa segue ritmo constante e planejado

Segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), entre 2014 e 2023 a Marinha do Exército de Libertação Popular da China incorporou 157 novos navios de guerra, número superior aos 67 adicionados pela Marinha dos EUA no mesmo período.

Relatórios da RAND Corporation (2023) e da Associated Press (dezembro de 2023) apontam que, em média, a China tem lançado um novo navio a cada três semanas desde 2020.

Investimentos em infraestrutura, a integração entre setores civis e militares e políticas industriais direcionadas à construção naval possibilitaram esse crescimento.

Além da velocidade, o tempo médio de construção de uma fragata na China é de cerca de quatro anos, enquanto nos Estados Unidos esse prazo costuma ser significativamente maior, principalmente devido a revisões de projeto e gargalos industriais.

Infraestrutura e cadeia produtiva apresentam limitações nos EUA

De acordo com análises da Government Accountability Office (GAO) e do Congressional Research Service, os estaleiros americanos enfrentam limitações que vão desde a falta de equipamentos modernos até a escassez de mão de obra especializada.

Outro fator que influenciou negativamente o custo das embarcações foram as tarifas sobre aço e alumínio aplicadas em 2018, que impactaram diretamente a aquisição de insumos estratégicos.

Além disso, é recorrente a prática de realizar alterações nos projetos após o início da construção, o que contribui para atrasos e aumento de custos. No caso da fragata USS Constellation, por exemplo, modificações técnicas reduziram significativamente sua semelhança com o modelo original, conforme apuração do The Wall Street Journal.

A semelhança, que antes era de 85%, caiu para apenas 15% após as alterações realizadas na embarcação.

A ausência de uma indústria naval comercial de grande escala nos Estados Unidos dificulta o suporte à construção de navios militares em grande volume. Além disso, compromete a capacidade de cumprir prazos menores na produção dessas embarcações.

Medidas em andamento para reverter os entraves na construção naval

Em outubro de 2023, o governo federal anunciou a criação do Escritório Nacional de Construção Naval.
Essa estrutura busca integrar esforços entre governo, estaleiros e setor de defesa.

Segundo o Departamento de Defesa, o novo órgão buscará acelerar cronogramas e ampliar os investimentos voltados aos estaleiros navais.

Além disso, pretende promover formação técnica em áreas essenciais, como engenharia naval e soldagem industrial.

Além disso, em fevereiro de 2024, a Casa Branca iniciou a formulação de uma ordem executiva para estimular a construção naval nos Estados Unidos.

O objetivo é reduzir a dependência de cadeias produtivas internacionais e fortalecer a indústria nacional.

Essas ações fazem parte de uma estratégia de médio e longo prazo. Elas visam recuperar a capacidade de produção naval militar, segundo o Defense News.

Além disso, o Congressional Budget Office também publica projeções que reforçam essa diretriz estratégica.

Implicações estratégicas e necessidade de reformulação da política naval

Historicamente, a Marinha dos EUA tem tido papel central na proteção de rotas comerciais e no equilíbrio de forças em regiões estratégicas.
Esse protagonismo é especialmente evidente em áreas como o Indo-Pacífico, onde a presença naval garante estabilidade e segurança para o comércio internacional.

No entanto, com a ampliação da presença naval chinesa, que se intensificou a partir de 2020, o cenário internacional passa por um momento de transição.

A National Defense Strategy (2022) reconhece que o Indo-Pacífico será um centro de competição estratégica nas próximas décadas.
Destacam-se o Mar da China Meridional e os estreitos do Sudeste Asiático como áreas prioritárias nesse contexto.

A Heritage Foundation e o CSIS alertam que os EUA precisam mudar sua política industrial e naval para manter influência nessas áreas.

Caso contrário, os Estados Unidos poderão reduzir significativamente sua capacidade de atuação e influência nos setores industrial e naval.

Planejamento, execução e transparência são fundamentais para retomar a competitividade naval

O caso da fragata USS Constellation representa um alerta sobre os riscos de projetos complexos sem estrutura adequada para execução. Ele também evidencia a necessidade de melhoria na governança de projetos militares e no planejamento orçamentário.

Segundo estimativas do Congressional Budget Office, a Marinha dos EUA precisará ter pelo menos 350 embarcações ativas até 2040. Isso garantirá presença global eficaz.

Para alcançar esse objetivo, será essencial modernizar estaleiros, reduzir interferências técnicas durante as construções e investir na formação de mão de obra especializada.

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