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A frota chinesa superou amplamente os Estados Unidos em número de embarcações militares

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 11/03/2025 às 13:18
frota
Foto: Reprodução

Expansão naval da China coloca país à frente dos Estados Unidos em número de embarcações militares

Quando o Donald Trump anunciou recentemente a criação de um novo escritório na Casa Branca para impulsionar a construção naval nos Estados Unidos, destacou uma preocupação crescente: a superioridade numérica da China no setor marítimo.

Atualmente, a China ultrapassa os EUA com mais de 400 navios militares contra 296 americanos. Essa situação expõe uma crise na indústria naval norte-americana, considerada essencial para a segurança nacional.

O comandante-geral do Corpo de Fuzileiros Navais, Eric Smith, descreveu a situação da indústria naval americana como reduzida “ao mínimo necessário”. Em entrevista exclusiva à VOA, Smith enfatizou que o país precisa urgentemente aumentar a construção de navios para acompanhar o crescimento estratégico chinês.

Redução preocupante

Nos últimos anos, o número total de navios da Marinha dos EUA vem caindo consistentemente. Em 2024, o orçamento permitiu construir seis novos navios, mas descomissionou quinze, resultando em perda líquida de nove embarcações.

Para 2025, estão previstos apenas seis novos navios, enquanto dezenove sairão de serviço, agravando ainda mais a defasagem.

Grandes empresas do setor naval, como a britânica BAE Systems, a norte-americana Huntington Ingalls Industries (HII) e a Fairbanks Morse Defense, dependem quase totalmente de contratos militares.

Líderes dessas empresas afirmam que têm capacidade para construir mais embarcações, mas a falta de contratos da Marinha americana prejudica o setor.

Segundo Brad Moyer, vice-presidente da BAE Systems, a empresa opera com metade da capacidade. Em visita recente da VOA ao estaleiro da BAE em Norfolk, Virgínia, boa parte das áreas para manutenção e construção estava vazia.

Cadeia produtiva ameaçada

A irregularidade nass contratações pelo governo dos EUA tem levado muitos fornecedores ao fechamento.

George Whittier, CEO da Fairbanks Morse Defense, destacou o risco real de fornecedores-chave desaparecerem do mercado.

Whittier afirmou que a Marinha deveria ter ao menos dois fornecedores para peças essenciais, como motores para navios anfíbios. Entretanto, atualmente, a própria sobrevivência de um único fornecedor já é desafiadora.

Whittier e Moyer apontam que atrasos frequentes no orçamento federal prejudicam a capacidade de planejamento das empresas.

O Congresso não aprova um orçamento anual dentro do prazo desde 2019, obrigando a Marinha e as empresas a operarem sob resoluções provisórias de orçamento (CRs). Essa situação gera instabilidade, atrasos em manutenções e prejuízos financeiros.

O senador Mark Kelly, membro do Comitê de Serviços Armados do Senado, concorda que o sistema orçamentário atual prejudica a eficiência da construção naval americana. Kelly afirmou que as resoluções provisórias não apenas atrasam projetos, como dificultam o planejamento anual da manutenção naval.

Falta de trabalhadores especializados

Além das questões orçamentárias, outro grande desafio é a escassez de mão de obra qualificada. Kari Wilkinson, vice-presidente executiva da Huntington Ingalls Industries (HII), afirmou que está cada vez mais difícil manter trabalhadores especializados, especialmente após a pandemia.

Segundo Wilkinson, o setor naval antes oferecia salários muito superiores à média local, o que atraía trabalhadores qualificados. Hoje, porém, a diferença salarial diminuiu, e os estaleiros enfrentam concorrência direta de empregos em restaurantes e comércios locais.

Como resposta, a HII investiu em melhorias no ambiente de trabalho, como ar condicionado e proteção contra o sol, para tornar o trabalho mais atrativo. Mesmo assim, o desafio de reter trabalhadores qualificados permanece significativo.

Preocupação com a frota comercial

O senador Kelly destacou outra questão preocupante: a frota comercial americana. Atualmente, os EUA constroem apenas cinco navios comerciais por ano, enquanto a China produz mais de mil no mesmo período.

Kelly enfatizou que a frota comercial dos EUA caiu drasticamente de cerca de 10 mil navios durante a Segunda Guerra Mundial para apenas 85 atualmente.

Kelly apresentou recentemente o projeto de lei bipartidário Ships for America Act, que pretende aumentar a frota comercial americana em 250 navios na próxima década.

O projeto prevê incentivos fiscais e a cobrança de taxas adicionais sobre cargas importadas para financiar essa expansão.

Essa expansão é vista como crucial não só para a economia, mas também para fortalecer a cadeia produtiva do setor naval militar. Muitas peças utilizadas na construção de navios militares são compartilhadas com embarcações comerciais, tornando as duas indústrias interdependentes.

A situação atual revela claramente uma crise na indústria naval dos Estados Unidos, exacerbada pela superioridade numérica crescente da China.

Tanto militares quanto líderes empresariais concordam que uma ação rápida e coordenada é necessária para reverter essa tendência preocupante.

A decisão do ex-presidente Trump de criar um novo escritório dedicado à construção naval busca exatamente isso: reverter rapidamente o cenário de declínio, fortalecendo uma indústria vital para a segurança nacional e econômica dos EUA.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista com mais de uma década de experiência, especializado na cobertura de temas estratégicos como indústria naval, tecnologia, economia, geopolítica, setor automotivo, energia renovável e política. Desde 2015, atuo em grandes portais de notícias, com destaque especial para reportagens e análises sobre o setor naval, acompanhando de perto as tendências, desafios e inovações da indústria marítima nacional e internacional.

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