Desenvolvimento do primeiro navio a amônia sofre atraso, adiando perspectivas de uma alternativa sustentável para o transporte marítimo global até 2026
O navio Viking Energy, que seria o primeiro do mundo a operar integralmente com amônia como combustível, teve seu cronograma alterado.
Antes previsto para iniciar suas operações já em 2024, agora o navio só estará pronto em 2026.
O atraso destaca os desafios técnicos de utilizar a amônia para abastecer navios e reduzir emissões no setor marítimo.
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Problemas técnicos atrasam projeto pioneiro
O Viking Energy é uma embarcação de abastecimento usada em plataformas de petróleo. Atualmente, passa por uma modernização inédita para funcionar exclusivamente com amônia.
O combustível é visto como alternativa promissora ao petróleo, porque não gera dióxido de carbono (CO₂), principal gás ligado ao aquecimento global.
Contudo, especialistas apontam que o uso da amônia traz desafios significativos. De acordo com o professor John Prousalidis, da Universidade Técnica Nacional de Atenas, a amônia é tóxica, explosiva e corrosiva.
Por isso, a infraestrutura exigida para armazená-la e transportá-la com segurança é complexa e cara.
São necessários tanques especiais, tubulações resistentes e veículos adaptados para evitar vazamentos e acidentes.
Prousalidis ressalta ainda uma preocupação ambiental importante: a queima da amônia em motores convencionais libera óxidos de nitrogênio, gases perigosos para a saúde humana.
Alternativas para resolver problemas ambientais
Para não simplesmente substituir um poluente por outro, engenheiros buscam soluções para reduzir essas emissões perigosas.
Uma das tecnologias em análise é a célula de combustível movida a amônia. Ao contrário da combustão tradicional, essa tecnologia produz eletricidade sem liberar gases tóxicos na atmosfera, mantendo o nitrogênio da amônia inerte.
Além disso, empresas envolvidas na reforma do Viking Energy planejam sistemas para neutralizar gases nocivos em motores convencionais.
Uma das técnicas, chamada redução catalítica seletiva, pode transformar óxidos de nitrogênio em substâncias inofensivas, como nitrogênio puro e água.
Infraestrutura de abastecimento gera impasse
Outro grande desafio para a adoção da amônia como combustível é a falta de infraestrutura de abastecimento nos portos.
É um problema conhecido na indústria naval como o dilema do “ovo ou galinha”: empresas não querem construir navios sem oferta garantida de combustível, enquanto fornecedores não investem em infraestrutura por falta de demanda.
Segundo Prousalidis, os próprios portos poderiam se tornar centros de produção e distribuição de combustíveis alternativos.
Dessa forma, poderiam ajudar a romper esse impasse, ao mesmo tempo em que lucrariam com a venda direta para navios movidos a amônia e outras tecnologias limpas.
Histórico mostra necessidade de paciência
Apesar dos obstáculos atuais, Prousalidis acredita que a amônia será adotada gradualmente, semelhante ao que ocorreu anteriormente com o gás natural.
Ele relembra que grandes mudanças energéticas levam tempo, frequentemente até duas décadas, para se consolidarem.
Enquanto isso, outras iniciativas avançam. Empresas como a Hanwha Ocean, da Coreia do Sul, e a americana Baker Hughes anunciaram planos de turbinas a gás 100% compatíveis com amônia até 2027.
O futuro da navegação com amônia pode atrasar, mas as iniciativas para viabilizá-lo seguem em frente.